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São Gregório Magno

«Antologia»

«Ele viu-o e encheu-se de piedade»

Exposição sobre os sete salmos da penitência, PL 79, 581

Ó Senhor Jesus, que tu tenhas a bondade de te aproximar de mim, movido pela piedade. Descendo de Jerusalém para Jericó, cais das alturas no nosso fosso, de um lugar onde os seres estão cheios de vida, para uma terra de doentes. Vê: eu caí nas mãos dos anjos das trevas que, não só me despiram as vestes da Graça, mas depois de me terem posto às cambalhotas, deixaram-me semi-morto. Que Tu cures as chagas dos meus pecados depois de me teres dado a esperança de encontrar a saúde, não vão piorar se eu vier a perder a esperança na cura. Que queiras ungir-me com o óleo do teu perdão e verter sobre mim o vinho da compunção. Se me levasses na tua montada, então é que «erguerias o fraco da poeira» e «retirarias o pobre do lixo» (Sl 112,7).

É que Tu és Aquele que transportou os nossos pecados, Aquele que pagou por nós uma dívida que não contraíra. Se Tu me conduzisses ao abrigo da tua Igreja, dar-me-ias de alimento a refeição do teu corpo e do teu sangue. Se tomasses conta de mim, eu não voltaria a desobedecer às tuas ordens, não atrairia mais sobre mim a raiva das feras furiosas. É que preciso muito dos teus cuidados, porquanto envergo esta carne sujeita ao pecado. Escuta-me pois, a mim, o samaritano despojado e ferido, chorando e gemendo, chamando por Ti e gritando com David: «Piedade para mim, ó Deus, segundo a tua grande ternura».

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«Que o amor nos atraia a segui-lo»

Homilias sobre os Evangelhos, n° 29

"O Senhor Jesus, depois de lhes ter falado, foi elevado ao céu e sentou-se à direita de Deus" (Mc 16,19). Partia assim para o lugar de onde era, regressava de um lugar onde continuava a permanecer; com efeito, no momento em que subia ao céu com a sua humanidade, unia pela sua divindade o céu e a terra. O que temos de destacar na solenidade de hoje, irmãos bem amados, é a supressão do decreto que nos condenava e do julgamento que nos votava à corrupção. Na verdade, a natureza humana a quem se dirigem estas palavras: "Tu és terra e regressarás à terra" (Gn 3,19), essa natureza subiu hoje ao céu com Cristo. É por isso, caríssimos irmãos, que temos de segui-lo com todo o nosso coração, até ao lugar onde sabemos pela fé que Ele subiu com o seu corpo. Fujamos dos desejos da terra: que nenhum dos lugares cá de baixo nos entrave, a nós que temos um Pai nos céus.

Pensemos também no facto de que aquele que subiu aos céus cheio de suavidade regressará com exigência... Eis, meus irmãos, o que deve guiar a vossa acção; pensai nisso continuamente. Mesmo se estais presos na confusão dos assuntos deste mundo, lançai desde hoje a âncora da esperança para a pátria eterna (He 6,19). Que a vossa alma procure apenas a verdadeira luz. Acabamos de ouvir que o Senhor subiu ao céu; pensemos seriamente naquilo em que acreditamos. Apesar da fraqueza da natureza humana que nos retém ainda cá em baixo, que o amor nos atraia a segui-lo, porque estamos certos de que aquele que nos inspirou este desejo, Jesus Cristo, não nos decepcionará na nossa esperança.

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«Dou-lhes a vida eterna»

Homilia 14 sobre o Evangelho

Aquele que é bom, não por um dom recebido mas por natureza, diz-nos: "Eu sou o bom Pastor". E continua, para que imitemos o modelo que nos deu da sua bondade: "O bom Pastor dá a vida pelas suas ovelhas" (Jo 10.11). No seu caso, Ele realizou o que tinha ensinado; mostrou o que tinha ordenado. Bom Pastor, Ele deu a vida pelas suas ovelhas, para mudar o seu corpo e sangue em nosso sacramento e saciar com o alimento da sua carne as ovelhas que tinha resgatado. Mostrou o caminho a seguir: desprezou a morte. Eis diante de nós o modelo a que temos de nos conformar. Em primeiro lugar, gastar-nos exteriormente com ternura pelas suas ovelhas; em seguida, se for necessário, oferecer-lhes a nossa morte.

Ele acrescenta: "Eu conheço - quer dizer, amo - as minhas ovelhas e elas conhecem-me". É como se dissesse de uma forma mais clara: "Quem me ama, siga-me!", porque quem não ama a verdade é porque ainda a não conhece. Vede, irmãos caríssimos, se sois verdadeiramente as ovelhas do bom Pastor, vede se O conheceis, vede se vos apropriais da luz da verdade. Não falo da apropriação pela fé mas pelo amor; vede se vos apropriais não pela vossa fé mas pelo vosso comportamento. Porque o mesmo evangelista João, que nos transmitiu esta palavra, afirma ainda: "Quem diz que conhece Deus e não guarda os seus mandamentos, é um mentiroso" (1 Jo 2,4) É por isso que, no nosso texto, Jesus acrecenta logo a seguir: "Assim como o Pai me conhece, Eu conheço o Pai e dou a vida pelas minhas ovelhas", o que equivale a dizer claramente: o facto de que Eu conheço o meu Pai e sou conhecido por Ele consiste em que Eu dê a vida pelas minhas ovelhas. Por outras palavras: este amor que me leva a morrer pelas minhas ovelhas mostra até que ponto Eu amo o Pai.

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«O Reino dos céus está em nós»

Homilia 14 sobre o Evangelho

Jesus disse no Evangelho: “As minhas ovelhas escutam a minha voz, eu conheço-as, elas seguem-me e eu dou-lhes a vida eterna” (Jo 10,27). Um pouco acima, ele tinha dito: “Se alguém entrar por mim, será salvo; entrará e sairá e encontrará pastagem” (v. 9). Porque entra-se pela fé, mas sai-se da fé pela visão face a face; passando da crença à contemplação, encontraremos pastagens para um repouso eterno.

São pois as ovelhas do Senhor quem tem acesso às pastagens, porque aquele que sai na simplicidade de coração recebe em alimento uma erva sempre verde. O que são estas pastagens das ovelhas senão as alegrias profundas de um paraíso sempre verdejante? A pastagem dos eleitos é o rosto de Deus presente, contemplado numa visão sem sombra; a alma sacia-se sem fim deste alimento de vida.

Nestas pastagens os que escaparam à rede dos desejos deste mundo são cumulados eternamente. Lá, canta o coro dos anjos, lá são reunidos os habitantes dos céus. Lá, é uma festa bem doce para os que regressam depois dos seus trabalhos numa triste estadia no estrangeiro. Lá se encontram o coro dos profetas de olhos penetrantes, os doze apóstolos juízes, a armada vitoriosa dos inumeráveis mártires tanto mais felizes quanto foram aqui em baixo rudemente afligidos. Nesse lugar, a constança dos confessores da fé é consolada recebendo a sua recompensa. Lá se encontram os homens fieis a quem os prazeres deste mundo não puderam amolecer a força de alma, as santas mulheres que venceram toda a fragilidade ao mesmo tempo que a este mundo; lá estão as crianças que pela sua maneira de viver se elevaram acima dos seus anos, os anciãos que a idade não pôde enfraquecer aqui em baixo e que a força para trabalhar não abandonou. Irmãos bem amados, ponhamo-nos em busca dessas pastagens onde seremos felizes em companhia de tantos santos.

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«Não se pode servir a dois senhores»

Escritos morais sobre Job, 34

Querer pôr a esperança e a confiança em bens passageiros é querer fazer fundações em água corrente. Tudo passa ; Deus permanece. Agarrarmo-nos ao que é transitório é desligarmo-nos do que é permanente. Quem, portanto, levado no turbilhão agitado de um rápido, consegue manter-se firme em seu lugar, nessa torrente fragorosa? Se quisermos recusar-nos a ser levados pela corrente, temos de nos afastar de tudo o que corre ; senão o objecto do nosso amor constranger-nos-á a chegar ao que precisamente queremos evitar. Aquele que se agarra aos bens transitórios será certamente arrastado até onde vão ter, à deriva, essas coisas a que se apega.

A primeira coisa a fazer é pois abstermo-nos de amar os bens materiais ; a segunda, não pormos total confiança naqueles bens que nos são confiados para ser usados e não para ser desfrutados. A alma que se prende a bens perecíveis, apenas, depressa perde a sua própria estabilidade. O turbilhão da vida actual arrasta quem nele se deixa ir, e é uma tonta ilusão, para aquele que é levado nesta corrente, nela querer manter-se de pé.

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«As nossas candeias apagam-se»

Homilias sobre os Evangelhos, 12

"As cinco virgens loucas, ao tomarem as suas candeias, não levaram azeite consigo; as prudentes, com as suas candeias, levaram azeite nas almotolias". O azeite designa aqui o esplendor da glória; as almotolias são os nossos corações, onde guardamos todos os nossos pensamentos. As virgens prudentes levam azeite nas almotolias, porque guardam na sua consciência todo o esplendor da sua glória, tal como diz S. Saulo: "O que faz a nossa glória, é o testemunho da nossa consciência" (2 Co 1,12). As virgens loucas, pelo contrário, não levam azeite consigo, porque não guardam a sua glória no segredo do coração, isto é, pedem-na aos louvores dos outros.

"Mas, no meio da noite, ouviu-se um brado: 'Eis o esposo que vem, ide ao seu encontro!'" Então todas as virgens se levantam. Mas as candeias das virgens loucas apagam-se porque as suas obras, que, de fora, pareciam resplandecentes aos olhos dos homens, por dentro não são mais que trevas à chegada do Juiz; e não recebem de Deus nenhum a recompensa, considerando que já receberam dos homens os louvores de que gostavam.

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«Jesus começou a fazer censuras
às cidades que não se tinham convertido»

Exposição sobre os sete salmos da penitência

Gritemos com David; ouçamo-lo chorar e vertamos lágrimas com ele. Vejamos como se corrige e alegremo-nos com ele: “Tende piedade de mim, Senhor, segundo a vossa misericórdia” (Ps 50, 3).

Coloquemos diante dos olhos da nossa alma um homem gravemente ferido, quase prestes a exalar o seu último suspiro, que jaz nu sobre o pó do caminho. No seu desejo de ver chegar um médico, geme e pede àquele que compreende o estado em que se encontra que tenha piedade dele. Ora, o pecado é um ferimento da alma. Tu, que és esse ferido, compreende que o teu médico se encontra dentro de ti, e descobre-lhe as chagas dos teus pecados. Que Ele oiça os gemidos do teu coração, Ele que conhece todos os pensamentos secretos. Que as tuas lágrimas o comovam e, se for preciso procurá-Lo com uma certa insistência, do fundo do teu coração, faz subir até Ele suspiros profundos. Que a tua dor chegue até Ele e que também a ti te digam, como a David: “O Senhor apagou o teu pecado”.

“Tende piedade d e mim, Senhor, segundo a vossa misericórdia”. É pouca a misericórdia que atraem sobre si aqueles que fazem diminuir a sua falta porque não conhecem esta grande misericórdia. Por mim, caí pesadamente, pequei com conhecimento de causa. Mas Tu, médico todo-poderoso, Tu corriges aqueles que Te desprezam, instruis aqueles que ignoram a sua falta e perdoas àqueles que Ta confessam.

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«Vistes aquele que o meu coração ama?»

Homilias sobre os Evangelhos

É preciso calcular a força com que o amor tinha abrasado a alma desta mulher que não se afastava do túmulo do Senhor, mesmo quando os discípulos o tinham abandonado. Procurava aquele que não encontrava, chorava procurando-o e, abrasada pelo fogo do seu amor, ardia de desejo por aquele que ela julgava que tinham roubado. Por isso, foi a única a vê-lo, ela que tinha ficado para o procurar, porque a eficácia de uma boa obra leva à perseverança e a Verdade diz esta palavra: "Aquele que tiver perseverado até ao fim será salvo" (Mt 10,22)...

Porque a espera faz crescer os santos desejos. Se a espera os faz cair, é porque não eram verdadeiros desejos. Foi com um amor semelhante que arderam todos os que puderam atingir a verdade. É por isso que David diz: "A minha alma tem sede do Deus vivo: quando me encontrarei diante da face de Deus?" (Sl 41,3) E a Igreja diz também no Cântico dos Cânticos: "Estou ferida de amor" e, mais à frente: "A minha alma desfaleceu" (Ct 2,5). "Mulher, porque choras? Quem procuras?" Perguntam-lhe o motivo da sua dor, para que o desejo aumente, para que nomeando aquele que procura, ela torne mais ardente o seu amor por ele.

"Disse-lhe Jesus: Maria". Após a palavra banal de "mulher", ele chama-a pelo nome. Era como se dissesse: "Reconhece aquele que te conhece. Não te conheço de uma maneira geral, como a todas as outras; conheço-te de um modo pessoal". Chamada pelo nome, Maria reconhece então o seu Criador e chama-lhe imediatamente: "Rabunni, isto é, mestre", porque aquele que procurava exteriormente era o mesmo que lhe ensinara interiormente a procurá-lo.

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«Recebestes de graça, dai de graça»

Homilias sobre os evangelhos, 6

Vós podeis, também, se o quiserdes, merecer este belo nome de mensageiros de Deus. Com efeito, se cada um de vós, segundo as suas possibilidades, na medida em que tiver recebido a inspiração do céu, desviar o seu próximo do mal, se tomar a seu cuidado trazê-lo para o bem, se recordar ao transviado do Reino o castigo que o espera na eternidade, é evidentemente um mensageiro das santas palavras de Jesus. E que ninguém venha dizer: Eu sou incapaz de instruir os outros, de os exortar. Façam ao menos o que vos é possível, para que um dia não vos peçam contas do talento recebido e mal conservado. Porque aquele que preferiu esconder o seu talento em vez de o fazer render não tinha recebido mais do que um talento (Mt 25, 14s)...

Arrastai os outros convosco; que eles sejam os vossos companheiros na estrada que leva a Deus. Quando, indo à praça ou aos banhos públicos, encontrardes alguém desocupado, convidai-o a acompanhar-vos. Porque as vossas acções quotidianas servem, ela s próprias, para vos unir aos outros. Ides a Deus? Tentai não chegardes lá sozinhos. Que aquele que, no seu coração, já escutou o apelo do amor divino tenha para com o seu próximo uma palavra de encorajamento.

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«Começou a enviá-los dois a dois»

Homilias sobre o Evangelho

O nosso Senhor e Salvador, irmãos caríssimos, instrui-nos quer pelas suas palavras, quer pelas suas acções. As suas acções são, elas mesmas, mandamentos porque, quando faz alguma coisa sem nada dizer, ele mostra-nos como devemos nós agir. Eis, pois, que envia os seus discípulos a pregar, dois a dois, porque os mandamentos da caridade são dois: o amor a Deus e ao próximo. O Senhor envia os seus discípulos a pregar dois a dois para nos sugerir, sem o dizer, que quem não tem caridade para com o outro não deve de forma alguma empreender o ministério da pregação.

Fica muito claro que "os envia dois a dois à sua frente a todas as aldeias e localidades em que ele mesmo deveria ir" (Lc 10,1). Com efeito, o Senhor vem após os seus pregadores, porque a pregação é um preâmbulo; o Senhor vem habitar a nossa alma quando as palavras de exortação vieram à frente e prepararam a alma para acolher a verdade. É por isso que Isaías diz aos pregadores: "Preparai o cominho do Senhor, aplanai as veredas para o nosso Deus" (40,3). E o salmista diz-lhes também: "Abri caminho para aquele que se eleva ao pôr-do-sol (Sl 67,5 vulg). O Senhor ergue-se ao pôr-do-sol porque, tendo-se deitado por ocasião da sua Paixão, manifestou-se com maior glória na sua Ressurreição. Ergueu-se ao pôr-do-sol porque, ressuscitando, esmagou aos pés a morte que tinha sofrido. Abrimos, portanto, o caminho àquele que se eleva ao pôr-do-sol quando pregamos a sua glória às vossas almas para que, vindo a seguir, ele as ilumine pela presença do seu amor.

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«Quando fores velho,
levar-te-ão para onde não quererias ir»
(Jo 21,18)

Sermão 82/69 para o aniversário dos apóstolos Pedro e Paulo

Tu não receias vir a esta cidade de Roma, ó santo apóstolo Pedro!... Não temes Roma, senhora do mundo, tu que em casa de Caifás tiveste medo diante da criada do sumo-sacerdote. O poder dos imperadores Cláudio e Nero seria então menor do que o julgamento de Pilatos ou o furor dos chefes dos judeus? É que a força do amor triunfava em ti sobre as razões do temor; não pensavas dever recear aqueles que recebeste missão de amar. Essa caridade intrépida, recebeste-a quando o amor que tinhas professado pelo Senhor foi fortalecido pela sua tripla pergunta (Jo 21,15s)... E, para acrescentar a tua confiança, havia ainda os sinais de tantos milagres, o dom de tantos carismas, a experiência de tantas obras maravilhosas!... Assim, sem duvidar da fecundidade da tarefa nem ignorar o tempo que te faltava viver, trazias o troféu da cruz de Criso a Roma onde, por divina predestinação, te esperavam ao mesmo tempo a honra da autoridade e a glória do martírio.

A essa mesma cidade chegava S. Paulo, apóstolo contigo, instrumento de escolha (Act 9,19) e mestre dos pagãos (1Tm 2,7), para estar contigo nesse tempo em que toda a inocência, toda a liberdade, todo o pudor eram já oprimidos sob o poder de Nero. Foi ele que, na sua loucura, decretou em primeiro lugar uma perseguição geral e atroz contra o nome cristão, como se a graça de Deus pudesse ser extinta com o massacre dos santos... Mas "preciosa aos olhos do Senhor é a morte dos seus santos" (Sl 115,15). Nenhuma crueldade pôde destruir a religião fundada pelo mistério da cruz de Cristo. A Igreja não foi diminuida mas acrescentada pelas perseguições; o campo do Senhor reveste-se sem cessar de uma mais rica seara, quando os grãos, caídos sós, renascem multiplicados (Jo 12,24). Que descendência deram, ao desenvolver-se, estas duas plantas divinamente semeadas! Milhares de santos mártires, imitanto o triunfo destes dois apóstolos, coroaram esta cidade com um diadema de pedras preciosas que ninguém pode contar.

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«Porque choras?»

Homila 25 sobre o Evangelho

Maria, em lágrimas, inclina-se e olha para dentro do túmulo. Ela já tinha todavia constatado que estava vazio, e tinha anunciado o desaparecimento do Senhor. Porque se inclina então ainda? Porque quer ver de novo? Porque o amor não se contenta com um único olhar; o amor é uma conquista sempre mais ardente. Ela já O procurou, mas em vão; obstina-se e acaba por descobrir...

No Cântico dos Cânticos, a Igreja dizia do mesmo Esposo: «No meu leito, de noite, procurei aquele que o meu coração ama. Procurei-o, mas não o encontrei. Vou levantar-me e percorrer a cidade; pelas ruas e pelas praças, vistes aquele que o meu coração ama?» (Ct 3, 1-2). Duas vezes ela exprime a sua decepção: «Procurei-o, mas não o encontrei!» Mas o sucesso vem, por fim, coroar o esforço: «Os guardas encontraram-me, aqueles que fazem ronda pela cidade. Vistes aquele que o meu coração ama? Mal os ultrapassei, encontrei aquele que o meu coração ama.» (Ct 3,3-4)

E nós, quando é que, nos nossos leitos, procuraremos o Amado? Durante os breves repousos desta vida, quando suspiramos na ausência do nosso Redemptor. Nós procuramo-Lo na noite, pois apesar do nosso espírito já estar desperto para Ele, os nossos olhos só vêem a Sua sombra. Mas, como não encontramos nela o Amado, levantemo-nos; percorramos a cidade, ou seja a assembleia dos eleitos. Procuremos de todo o coração. Procuremos nas ruas e nas praças, ou seja nas passagens escarpadas da vida ou nos caminhos espaçosos; abramos os olhos, procuremos aí os passos do nosso Bem-Amado...

Esse desejo fez dizer a David: «A minha alma tem sede do Deus de vida. Quando irei ver a face de Deus? Sem descanso, procurai a Sua face» (Sl 42,3).

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«Mulher, porque choras?»

Homilia 25

Maria torna-se testemunha da compaixão de Deus; sim... aquela Maria a quem um fariseu queria quebrar o arroubo de ternura. "Se este homem fosse profeta, exclamava ele, saberia quem é esta mulher que o toca e o que ela é: uma pecadora" (Lc 7,39). Mas as suas lágrimas apagaram-lhe as manchas do corpo e do coração; ela precipitou-se a seguir os passos do seu Salvador, afastando-se dos caminhos do mal. Estava sentada aos pés de Jesus e escutava-o (Lc 10,39). Vivo, apertava-o nos seus braços; morto, procurava-o. E encontrou vivo aquele que procurava morto. Encontrou nele tanta graça que acabou por ser ela a levar a boa nova aos apóstolos, aos mensageiros de Deus!


Que devemos ver aqui, meus irmãos, senão a infinita ternura do nosso Criador, que, para dar novo ânimo à nossa consciência, nos dá constantemente exemplos de pecadores arrependidos. Lanço os meus olhos sobre Pedro, olho para o ladrão, examino Zaqueu, considero Maria e só vejo neles apelos à esperança e ao arrependimento. Foi a vossa fé tocada pela dúvida? Pensem em Pedro que chora amargamente a sua cobardia. Estais ardendo em cólera contra o vosso próximo? Pensai no ladrão: em plena agonia, arrepende-se e ganha as recompensas eternas. A avareza seca-vos o coração? Prejudicastes alguém? Vede Zaqueu que devolve quatro vezes mais aquilo que tinha roubado a um homem. Por causa de uma paixão, perdestes a pureza da carne? Olhai para Maria que purifica o amor da carne com o fogo do amor divino.

Sim, Deus todo-poderoso oferece-nos constantemente exemplos e sinais da sua compaixão. Enchamo-nos, pois, de horror pelos nossos pecados, mesmo pelos mais antigos. Deus todo-poderoso esquece com facilidade que nós cometemos o mal e está pronto a olhar para o nosso arrependimento como se fosse a própria inocência. Nós que, depois das águas da salvação, nos tínhamos de novo manchado, renasçamos das nossas lágrimas... O nosso Redentor consolará as vossas lágrimas com a sua alegria eterna.

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«Bendizei o Senhor,
vós seus anjos, que servis a sua palavra»
(Sl 102,20)

Homilias sobre o Evangelho

Que há anjos, muitas páginas da Sagrada Escritura o atestam… Mas é preciso saber que a palavra “anjo” designa a sua função: ser mensageiro. E chamamos “arcanjos” aos que anunciam os grandes acontecimentos. Foi assim que o arcanjo Gabriel foi enviado à Virgem Maria; para este ministério, para anunciar o maior de todos os acontecimentos, impunha-se enviar um anjo da mais alta estirpe…

De igual forma, quando se tratou de manifestar um poder extraordinário, foi Miguel que foi enviado. Na verdade, a sua ação, tal como o seu nome que quer dizer “Quem como Deus?”, fazem compreender aos homens que ninguém pode realizar o que compete apenas a Deus. O antigo inimigo, que desejou por orgulho fazer-se semelhante a Deus, dizia: “Eu escalarei os céus; erigirei o meu trono acima das estrelas; serei semelhante ao Altíssimo” (Is 14,13). Mas o Apocalipse diz-nos que, no fim dos tempos, quando for abandonado à sua própria força, antes de ser eliminado pelo suplício final, ele terá de combater contra o arcanjo Miguel: “Houve um combate nos céus: Miguel e os seus anjos combateram contra o Dragão. E também o Dragão combatia com os seus anjos; mas não venceu e foi precipitado no abismo” (Ap 12,7).

À Virgem Maria, foi então Gabriel, cujo nome significa “Força de Deus”, que foi enviado; não é verdade que ele vinha anunciar aquele que quis manifestar-se numa condição humilde, para triunfar do orgulho do demônio? Foi, pois, pela “Força de Deus” que foi anunciado aquele que vinha como “o Senhor dos exércitos, poderoso nos combates” (Sl 23,8).

Quanto ao arcanjo Rafael, o seu nome significa “Deus cura”. Na verdade, foi ele que livrou das trevas os olhos de Tobias, tocando-os como toca um médico vindo do céu (Tb 11,17). Aquele que foi enviado para cuidar o justo na sua enfermidade merece bem ser chamado “Deus cura”.

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«Dar fruto pela perseverança»

Homilias sobre o Evangelho

Vigiai para que a palavra que recebestes ressoe no fundo do vosso coração e aí permaneça. Tende cuidado para que a semente não caia ao longo do caminho, receando que o Espírito mau venha apagar a palavra da vossa memória... Tende cuidado para que o chão pedregoso não receba a semente e não produza uma boa ação desprovida das raízes da perseverança. Com efeitos, muitos se alegram ao ouvir a palavra e se dispõem a empreender boas obras. Mas apenas as provações começaram a apertá-los, eles renunciam ao que tinham empreendido. Assim, o solo pedregoso teve falta de água, de tal forma que o germe da semente não chegou a dar o fruto da perseverança.

Mas o terra boa dá fruto pela paciência: entendamos por isso que as nossas boas obras podem ter valor se suportarmos pacientemente os inconvenientes que o nosso próximo nos provoca. Aliás, quanto mais avançamos para a perfeição, mais provas temos de suportar; uma vez que a nossa alma abandonou o amor do mundo presente, cresce a hostilidade desse mundo. É por isso que vemos muitos que penam sob um pesado fardo (Mt 11,28), sendo boas as suas obras… Mas, de acordo com a palavra do Senhor, “eles produzem fruto pela sua perseverança”, suportando humildemente essas provas, de tal forma que, após terem penado, serão convidados a entrar na paz do céu.

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«Não vos esqueçais da hospitalidade»

Homilia 23

Dois dos discípulos caminhavam juntos. Eles não acreditavam, e no entanto falavam sobre o Senhor. De repente Este apareceu-lhes, mas sob uns traços que não lhes permitia reconhecê-Lo. [...] Convidam-No para partilhar da sua pousada, como é costume entre viajantes [...] Põem então a mesa, apresentam os alimentos, e a Deus, que eles não tinham ainda reconhecido na explicação das Escrituras, descobrem-No quando da fracção do pão. Não foi portanto ao escutarem os preceitos de Deus que foram iluminados, mas ao cumpri-los: «Não são os que ouvem a Lei que são justos diante de Deus, mas os que praticam a Lei é que serão justificados» (Rm 2,13). Se quisermos compreender o que ouvimos, apressemo-nos a pôr em prática o que conseguimos perceber. O Senhor não foi reconhecido enquanto falava; Ele dignou-Se manifestar-Se quando Lhe ofereceram de comer.

Ponhamos pois amor no exercício da hospitalidade, queridos irmãos; pratiquemos de coração a caridade. Diz Paulo sobre este assunto: «Que permaneça a caridade fraterna. Não vos esqueceis da hospitalidade, pois, graças a ela, alguns, sem o saberem, hospedaram anjos.» (He 13,1; Gn 18,1ss). Também Pedro diz: «Exercei a hospitalidade uns para com os outros, sem queixas» (1 Pe 4,9). E a própria Verdade nos declara: «Era peregrino e recolhestes-Me» [...] «Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes» (Mt 25,35.40) [...] E apesar disto, somos tão preguiçosos diante da graça da hospitalidade! Avaliemos, irmãos, a grandeza desta virtude. Recebamos Cristo à nossa mesa, para que possamos ser recebidos no seu festim eterno. Dêmos neste preciso momento a nossa hospitalidade a Cristo que no estrangeiro está, para que no momento do julgamento não sejamos como estrangeiros que Ele não sabe de onde vêm (Lc 13,25), mas sejamos irmãos que em seu Reino Ele recebe.

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«Nós deixámos tudo e seguimos-te»

Homilia 5 sobre o Evangelho

Ouvistes, meus irmãos, que Pedro e André abandonaram as redes para seguirem o Redentor ao primeiro apelo da sua voz (Mt 4,20)... Talvez algum de vós diga baixinho: "Para obedecer ao apelo do Senhor, que é que aqueles dois pecadores abandonaram, eles que não tinham quase nada?" Mas, nesta matéria, temos de considerar as disposições do coração mais do que os bens que se possuem. Deixa muito aquele que não retém nada para si; deixa muito aquele que abandona tudo, mesmo se não é muita coisa. Quanto a nós, aquilo que possuimos, conservamo-lo com paixão, e, o que não temos, buscamo-lo com todo o nosso desejo. Sim, Pedro e André deixaram muito, pois um e outro abandonaram mesmo o desejo de possuirem. Abandonaram muito porque, renunciando aos seus bens, renunciaram também às suas ambições. Seguindo o Senhor, renunciaram a tudo o que teriam podido desejar se o não tivessem seguido.

Mais de São Gregório Magno, em SOPHIA.

Fonte:

Evangelho Cotidiano

 

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